Trecho poluído do rio Tietê, em Pirapora do Bom Jesus, na Grande São Paulo. Foto: Rafael Pacheco/Fotos Públicas (22/06/2015)
"Em atendimento ao seu pedido, informamos que a Sabesp não mede o esgoto que não é encaminhado para tratamento." Essa foi a resposta da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, do governo
Geraldo Alckmin (PSDB), à pergunta feita pelo
Fiquem Sabendo via Lei de Acesso à Informação acerca do volume de esgoto não tratado que é despejado pela estatal nos cursos hídricos (rios, córregos etc) da Grande São Paulo.
Uma infeliz coincidência: a resposta, nada além dessa frase, foi enviada pela companhia em pleno Dia Mundial da Água, comemorado anualmente no dia 22 de março.
A Sabesp levou 26 dias para elaborar tal resposta (mais de um dia para cada palavra). No dia 24 de fevereiro, a reportagem lhe enviara o seguinte questionamento:
Por ano, entre 2006 e 2016, quanto (em litros) a Sabesp despejou em esgoto não tratado nos rios das cidades da região metropolitana de SP onde a estatal opera?
Acreditar nessa informação significa aceitar que uma estatal do porte da Sabesp, cheia de engenheiros em sua cúpula, é incapaz de fazer a seguinte conta: a quantidade de esgoto coletado menos o volume de esgoto tratado por ela. Subtrair, uma das quatro operações matemáticas que se ensinam na escola.
Evidente que a resposta não é condizente com o que determina a Lei de Acesso à Informação. A Sabesp tem essa informação. É que transparência nunca foi o forte da estatal. Só para relembrarmos: a Sabesp levou nove meses (de outubro de 2014 a julho de 2015) para abrir seus dados de
reclamações por falta de água na Grande São Paulo depois de ser forçada a fazer isso diante de um pedido também feito pelo
Fiquem Sabendo com base na Lei de Acesso à Informação.
Naquele período, entre a eleição vencida por Alckmin, que controla a estatal, e a revelação desses dados, a Sabesp se utilizava de uma espécie de mantra: só falta água em imóveis sem caixa d'água, dada a redução de pressão da rede de distribuição de água, que, por sua vez, era necessária para poupar as perdas nos vazamentos de suas tubulações. Claro, não?
Há dois anos, quando a Grande São Paulo era castigada pela crise de falta de água, a Sabesp disponibilizava basicamente duas informações ao cidadão em sua página na internet: 1) o nível de seus reservatórios e 2) uma lista dos locais onde se operavam as manobras de redução de pressão responsáveis pela
"economia fabulosa" de seu diretor, Paulo Massato, o homem que fechava as torneiras dos paulistanos.
Passados dois anos, a economia fabulosa já se converteu em um desperdício com percentual superior ao registrado antes da crise hídrica. Em matéria de transparência, a Sabesp não deu nem um passo adiante. Em seu site, vê-se exatamente aquilo que era disponibilizado em 2015.
Mas, voltando ao presente pedido, acerca do estogo que é despejado pela Sabesp sem tratamento: o
Fiquem Sabendo tem tanta certeza de que os técnicos da Sabesp dominam as quatro operações, que interpôs recurso a fim de que ela mude de ideia, reveja mais uma vez sua conduta com relação à sua falta de transparência, e dê números ao um quadro assombroso responsável, entre outros problemas, pela poluição dos rios que cortam a capital paulista, como o Tietê e o Pinheiros.
Até lá, o
Fiquem Sabendo ficará com o dado revelado pelo biólogo e presidente do
IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade),
João Paulo Capobianco, que, em
artigo publicado no último dia 23 no jornal O Estado de S.Paulo, afirmou que a Sabesp despeja "mais de 300 milhões de litros de esgoto diariamente nos cursos hídricos da cidade de São Paulo".